sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Pássaros Feridos


Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade que qualquer outra criatura sobre a terra.
A partir do momento em que deixa o ninho,começa a procurar um espinheiro-alvar, e só descansa quando o encontra.
Depois, cantando entre os galhos selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais compreido.
E, morrendo, sublima a própria agonia e despede um canto mais belo que o da cotovia e o do rouxinol.
Um canto superlativo, cujo preço é a existência.
Mas o mundo inteiro pára para ouvi-lo, e Deus sorri no céu.
Pois o melhor só se adquire 'a custa de um grande sofrimento........
Pelo menos é o que diz a lenda.O pássaro com o espinho encravado no peito segue uma lei imutável; impelido por ela, não sabe o que é empalar-se, e morre cantando. No instante em que o espinho penetra não há consciência nele do morrer futuro; limita-se a cantar e canta até que não lhe sobra vida para emitir uma única nota. Mas nós, quando enfiamos os espinhos no peito, nós sabemos. Compreendemos. E assim mesmo o fazemos. Assim mesmo o fazemos.”  -    Segundo a lenda, é o pássaro de canto mais doce e suave que já existiu. Passa a vida procurando uma árvore desfolhada, de galhos cortantes e pontiagudos, não descansando enquanto não a encontra. Nesse instante, cantando entre a ramagem bruta, se autoflagela e produz mais perfeito poema musical a ser ouvido por todos os cantos da Terra, superando sua própria agonia. Assim, o melhor som é conseguido às custas de profunda dor... 
(Trecho do livro: Pássaros Feridos – Colleen McCullough)

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